O Dia
Internacional do Livro Infantil comemora-se desde 1976, na data em que nasceu o
escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, um dos mais conhecidos da
literatura infantil e autor de histórias infantis como «O Patinho Feio», «O
Soldadinho de Chumbo» ou a «Pequena Sereia»
A
Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas assinala esta data com a
publicação de um cartaz da autoria de Ana Biscaia, vencedora da 17ª edição do
Prémio Nacional de Ilustração, e promove a mensagem de um autor convidado pela
IBBY – International Board on Books for Young People, dirigida a todas as
crianças do mundo. Este ano, a responsabilidade coube à escritora irlandesa Siobhán Parkinson.
Os leitores
perguntam muitas vezes aos escritores como é que escrevem as suas histórias – de
onde vêm as ideias? Da minha imaginação, responde o escritor. Ah, sim, dizem os
leitores. Mas onde fica a imaginação, de que é que ela é feita, e será que todos
temos uma?
Bem, diz o escritor,
fica na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e memórias e vestígios
de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias e pensamentos
e rostos e monstros e formas e palavras e movimentos e palavras e ondas e
arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e ritmos e
pequenos cliques e flashes e sabores e explosões de energia e enigmas e brisas
e palavras. E fica tudo a girar lá dentro e a cantar e a parecer um
caleidoscópio e a flutuar e a pousar e a pensar e a arranhar a cabeça.
Claro que
todos temos uma imaginação: se assim não fosse, não seríamos capazes de sonhar.
Contudo, nem todas as imaginações são feitas das mesmas coisas. A imaginação
dos cozinheiros tem sobretudo paladares, e a dos artistas mais cores e formas. Mas
a imaginação dos escritores está cheia de palavras.
E nos
leitores e ouvintes das histórias, as imaginações fazem – se com palavras também.
A imaginação do escritor trabalha e gira e molda ideias e sons e vozes e personagens
e acontecimentos numa história, e a história é apenas feita de palavras, batalhões
de rabiscos que marcham ao longo das páginas. E depois chega o leitor e os rabiscos
ganham vida. Ficam na página, parecem ainda rabiscos, mas também brincam na
imaginação do leitor, e o leitor começa igualmente a desenhar e a rodar as
palavras de modo a que a história se crie agora na sua cabeça, tal como tinha acontecido
na cabeça do escritor.
É por isso
que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Há apenas um escritor
para cada história, mas há centenas ou milhares ou mesmo milhões de leitores,
na própria língua do escritor ou traduzida para muitas línguas. Sem o escritor,
a história nunca teria nascido; mas sem os milhares de leitores em todo o mundo,
a história não viveria todas as vidas que pode viver.
Cada leitor
de uma história tem alguma coisa em comum com os outros leitores da mesma
história. Separadamente, mas também em conjunto, eles recriam a história do
escritor com a sua própria imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e público,
individual e coletivo, íntimo e internacional. Isto deve ser o aquilo que o ser
humano faz melhor.
Continua a
ler!
Siobhán
Parkinson
Autora,
editora, tradutora e distinguida com o Laureate na nÓg(Children’s Laureate of
Ireland).
Tradução:
Maria Carlos Loureiro
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